BRENDA PANTOJA
Da Redação
A colaboração e a cidadania são a base para as atividades promovidas pela Organização Não Governamental (ONG) Viva Mosqueiro. Voluntários da entidade e moradores da Ilha se articulam para promover cursos educativos e de capacitação profissional, tornando o espaço referência no distrito em projetos que valorizam a comunidade e investem no potencial turístico da região. O caminho encontrado desde a fundação, há sete anos, foi trabalhar para fortalecer os aspectos sociais e culturais da população, com benefícios que também chegam por meio das parcerias com várias associações, órgãos do governo estadual e instituições.
Em média, 1.500 pessoas são atendidas mensalmente pela ONG, que conta com um corpo de 120 voluntários permanentes. "A gente busca descentralizar as ações para alcançar o maior número de pessoas possível, já que Mosqueiro é muito grande", explica Daniel Teixeira, um dos coordenadores. A maioria das palestras e oficinas acontecem na sede, que abriga um centro profissionalizante, localizada no bairro da Vila, mas eles também trabalham com espaços cedidos em outros bairros e a cooperação entre os habitantes ajuda a ampliar a difusão de conhecimento. Além de inserir jovens no mercado de trabalho, os cursos aquecem o comércio na época do veraneio.
Uma das modalidades muito procuradas é a classe de Alimentação, promovida pela ONG e pelo programa ProJovem, do governo federal. Após as aulas teóricas e práticas, ministradas em seis meses, o aluno sai apto a trabalhar em restaurantes, lanchonetes e quiosques, um segmento bastante produtivo na Ilha principalmente no período das férias escolares. "Conseguir certificação na área é uma garantia de emprego, pois a qualificação faz toda a diferença aqui em Mosqueiro, já que no resto do ano o mercado é bem restrito", afirma a estudante Roseane Pinheiro, 19, que já participou de um curso de informática básica na Viva Mosqueiro. "O trabalho deles é uma ajuda para muitos jovens da Ilha, que encontram na ONG uma base para a formação profissional", avalia.
Os jovens que procuram a entidade tem outras opções de capacitação, como cozinheiro, faxineiro, porteiro e caseiro, mas podem escolher ainda entre os cursos do ProJovem para açougueiro ou construção e reparos. A professora Roseane Tabosa atua como voluntária e contabiliza pelo menos 100 alunos nas turmas de serviços domésticos. "São pessoas entre 18 e 29 anos, sempre muito focadas porque sentem a necessidade da profissionalização e entendem que não podem deixar essa chance passar", observa. A rotina de aulas chegou a ser alterada em função do crescimento do movimento na Ilha aos finais de semana, para que eles pudessem trabalhar sem perder o conteúdo das aulas. Para ela, é gratificante vê-los aplicando os conhecimentos e ocupando postos de trabalho graças a uma ação social, além de poder contribuir para mudar uma realidade. As vagas são sempre muito disputadas, pois o programa fornece uma bolsa mensal de R$ 100 para ajuda de custo com transporte e alimentação.
"Em compensação monitoramos a frequência e a participação deles, que não podem faltar mais de três vezes e precisam participar das atividades relacionadas à formação para garantir um bom aproveitamento dos cursos. A procura é tão grande que se formam listas de espera de um semestre para o outro", conta Daniel. No ano passado, 1.200 alunos concluíram os cursos ofertados em 35 turmas na sede e nos bairros. Uma vez inscrito em alguma classe formada pela ONG, o participante é convidado a contribuir com dois quilos de alimento ou material de limpeza. Essas doações e a arrecadação feita entre os voluntários, que doam cerca de R$ 20 por mês, é a fonte de recursos da ONG. "É daí que sai também a ajuda de custo para alguns professores que moram longe e a verba para a manutenção do prédio", reforça Rosane Gama, que também integra a coordenação da Viva Mosqueiro.
Ela atribui a solidariedade dos voluntários e moradores ao sentimento coletivo de necessidade presente na Ilha. “Há uma cultura colaborativa em Mosqueiro, porque aqui a vida não é fácil e temos muitas carências que dependem da administração de Belém para serem supridas”, lamenta. É por ver de perto as situações precárias que a população enfrenta em transporte, saúde e saneamento que a ONG utiliza as ações sociais para alicerçar uma proposta maior. “O nosso projeto, a longo prazo, é criar as condições para a transformação do distrito de Mosqueiro em um município”, justifica Rosane. A própria sociedade já reconhece a ONG como um espaço de utilidade pública, garante a secretária da entidade, Luana Monteiro. “Temos o apoio de contadores, advogados, pedagogos, psicólogos e outros profissionais que orientam e atendem gratuitamente os moradores, mas a burocracia ainda é nosso principal obstáculo”, pontua.
A cada evento cultural realizado a ONG arrecada mantimentos para a distribuição de cestas básicas. Em 2012 mais de 1.500 famílias receberam os alimentos, mas ainda não é o suficiente para a quantidade de pessoas que pedem auxílio, segundo ela. A instituição também é conhecida em Mosqueiro pelas programações tradicionais, como o Samba Ilha, no carnaval e o Forró Ilha, na quadra junina, que já mobilizaram mais de 70 grupos folclóricos e carnavalescos neste ano. “A ideia é valorizar e preservar a nossa cultura popular, fortalecendo a identidade dos habitantes”, explica Daniel. A Copa de Futsal reuniu 60 times na edição 2013 e foi ponto de coleta das cestas básicas e brinquedos que serão entregues no fim do ano, no projeto Natal Solidário, que pretende alcançar 3.000 pessoas.
Estimular a consciência social também faz parte da pauta da ONG e a cada dois meses eles convocam uma assembleia de moradores para discutir os problemas da região. As soluções são apresentadas e debatidas também em outras ocasiões, como o Fórum do Idoso, o Encontro de Mulheres “Rosa Shock” e na rádio comunitária “Viva Mosqueiro”. Arnold Monteiro tem 24 anos e é produtor, músico, radialista e está concluindo o curso profissionalizante em Alimentação pela ONG. As várias habilidades o ajudam na hora de conseguir um emprego e ele decidiu usá-las para colaborar com a rádio comunitária, onde trabalha há um ano e meio. “É muito boa a iniciativa de ter um canal direto com a população, onde são divulgadas informações de interesse público, denúncias e serviços”, elogia.
Para ele, atuar na área de comunicação através da Viva Mosqueiro trouxe grandes aprendizados. “Esse trabalho me ajudou a lidar melhor com o público, saber atuar em equipe e pensar no crescimento coletivo”, completa. Uma pessoa que participasse de todos os cursos fornecidos pela ONG, independente da área de interesse, reuniria conhecimentos sobre corte e costura, artesanato, musicalização, tapeçaria, crochê, informática, bordado, biscuit, customização, entre outros temas, além dos serviços domésticos e profissionalizantes.
LIVRO SOLIDÁRIO
Dentre as parcerias da ONG está a Imprensa Oficial do Estado (IOE), que apoiou a implantação de um Espaço de Leitura em Mosqueiro, em dezembro do ano passado. A ação fez parte do projeto Livro Solidário e Daniel estima que cerca de duas mil pessoas foram beneficiadas com a chegada da biblioteca. Cerca de 1.400 publicações foram doadas entre enciclopédias, dicionários, obras literárias e livros didáticos do ensino fundamental ao ensino médio. Daniel Teixeira calcula que, com a implantação do Espaço, cerca de 2 mil pessoas são beneficiadas direta e indiretamente. “São crianças, adolescentes, adultos e idosos que consultam os livros para complementar pesquisas escolares, para enriquecimento cultural ou para apoio didático até mesmo nos cursos que promovemos”, diz ele.
Esses são os objetivos centrais do projeto, frisa a coordenadora do Livro Solidário, Carmem Palheta. “Através disso se fortalece a inclusão social, o acesso à informação e o exercício da cidadania”, reforça. Desde o começo do trabalho, 25 mil livros já foram arrecadados. Eles chegam por meio de doações da sociedade em geral e passam por processos de higienização, seleção e catalogação. Desse montante, 12 mil já foram encaminhados para os acervos de instituições, hospitais públicos e bibliotecas comunitárias. Ela calcula que aproximadamente 15 mil pessoas foram alcançadas pelo projeto nesse curto espaço de funcionamento.
“O retorno positivo é o principal indício do êxito que o projeto tem alcançado”, acredita Carmem. Ela destaca o caso da Escola de Ensino Fundamental em Regime de Convênio Associação Cristã do Benguí, que atende 500 crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos. A unidade recebeu um Espaço de Leitura e influenciou o planejamento pedagógico da escola, uma vez que o interesse dos alunos pela leitura e produção cultural cresceu visivelmente. Na Feira Pan-Amazônica do Livro deste ano, um grupo de 40 crianças da escola apresentou o espetáculo teatral “A Herdeira das Bruxas: Reciclar para Transformar”, com temática ambiental. A próxima atividade promovida pelo IOE será a Ação Leitura, na Praça do Carmo, na próxima sexta-feira pela manhã, como parte da Festividade de Nossa Senhora do Carmo.
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