segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Pai e filho compartilham mais que amor

*Publicado no jornal O LIBERAL de 11/08/2013

BRENDA PANTOJA
Da Redação    

    Pai e filho atendem pelo nome de Hélio Dourado. Na tentativa de especificar, não adianta chamar pelo "professor Hélio", pois os dois também compartilham a profissão. Além da relação familiar, os pontos em comum aproximam ainda mais Hélio Vieira Dourado, o pai, de 72 anos, e o filho Hélio Platilha Dourado, 30 anos. Por outro lado, as diferenças já podem ser vistas na sala de aula. O primeiro leciona as disciplinas de Física e Matemática enquanto o outro dá aulas de Português e Inglês. "Sempre tive facilidade em matérias de Humanas e passei arrastado em Física, acabava sendo a pior propaganda do meu pai", brinca Hélio.
    Ainda que hoje dividam a mesma paixão pelo magistério, eles chegaram à carreira por caminhos diferentes. "Quando soube que ele também queria ser professor tomei um susto, porque até então ele desejava ser médico e queria distância da profissão", lembra o pai. De fato, a decisão foi uma surpresa até para o filho, que tentou o vestibular para Medicina durante quatro anos. "Quando concluí meu curso de inglês fiz a seleção para ser professor, apenas como uma forma de ganhar dinheiro extra, mas acabei me encantando pela sala de aula e escolhi entrar na faculdade de Letras", conta. 
    Ele garante que a influência e o incentivo do pai foram fundamentais para a mudança de visão profissional. Hélio Dourado, o pai, começou a dar aulas muito jovem, aos 13 anos, antes mesmo de ser aprovado em Engenharia Civil. E lá se vão 59 anos, sete vezes mais tempo de experiência do que o filho. "Os mesmo alunos, às vezes até os filhos e netos deles, que passaram pelas aulas do meu pai agora chegam às minhas e é muito legal educar gerações diferentes ", afirma. Eles avaliam que o aprendizado é mútuo e contínuo. "Ser aluno do meu pai me ensinou muito sobre a postura do educador em sala, como abordar o conteúdo e os alunos", revela ele, ao que o pai responde: "e eu aprendi a analisar e entender o comportamento da juventude atual, levando as impressões de dentro de casa para a sala de aula". 
     Para ele, o magistério está no sangue. "Acho que é uma vocação hereditária, porque minha mãe era professora, meu tio e minhas irmãs também são", acredita o pai, que também casou com uma professora. Hélio, que é filho único, cresceu nesse meio e aprendeu a enxergar a profissão com carinho e a troca de conhecimento com o pai é enorme. "Frequentemente peço orientação a ele em relação a alguma turma ou projeto pedagógico, até pela questão do temperamento: eu sou muito explosivo e ele é mais analítico", admite. Em contrapartida, ele tenta ajudar o pai a lidar com ferramentas mais tecnológicas dentro e fora das salas. Hoje, o Dia dos Pais será comemorado com o tradicional almoço em família. 
     O filho se diz orgulhoso do nome similar, dado em homenagem ao pai e ao avô, e dos valores recebidos durante a criação. "Tudo o que eu sou em termos de princípios, respeito e bem-viver é reflexo da educação do meu pai", reconhece. A paternidade também trouxe sabedoria ao professor Hélio Dourado, figura respeitada nos colégios paraenses. "Mesmo das nossas incertezas e inseguranças durante o desafio de educar uma pessoa a gente tira muitos ensinamentos e fica a alegria de ver a pessoa extremamente honesta que formamos", elogia ele. Entre fórmulas da Física e textos da Literatura, pai e filho acreditam que falam a mesma linguagem e frisam que a admiração é recíproca. 
     A psicóloga Jesiane Calderaro, vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP), explica porque, muitas vezes, os pais se tornam modelo e inspiração para os filhos. "Desde crianças a noção de valores inscrita e absorvida em nossa realidade psíquica sobre o pai tem o  significado  de que ele é aquele  suficientemente forte, que acolhe, que carrega no colo, que protege, sustenta, disciplina quando há necessidade e  que premia quando há merecimento", detalha. Com essa imagem em mente, a pessoa geralmente busca um caminho para despertar igual admiração no pai, mesmo quando adota uma atitude de confronto, fase observada principalmente durante a adolescência e juventude.
        "A discordância é saudável nas pequenas decisões, à medida que  se constituem  um treino para a posteridade, ocasião na qual a pessoa já adulta, e não poucas vezes,  terá que tomar decisões sozinha, ser convincente ou enfrentar diversas oposições", esclarece. Ela acrescenta que a análise se estende a outras referências paternas, que podem ser o avô, irmão mais velho, padrasto e, em alguns casos, até mesmo a mãe. A psicóloga atribui essa flexibilidade nos papeis familiares às atuais "reformulações na conjuntura social". 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se já leu, não custa comentar (: