terça-feira, 26 de maio de 2015

Beijo gay enfrenta estigma na vida real

*Publicado em O LIBERAL de 16/02/2014

BRENDA PANTOJA
Da Redação

     O beijo gay exibido há duas semanas no último capítulo da novela “Amor à Vida”, protagonizado pelos personagens Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), ainda é alvo de discussões polêmicas e o debate deve se prolongar com a construção de um novo casal homossexual no horário nobre da TV Globo. “Em Família” apresentou, nesta semana, Marina (Tainá Muller) e Clara (Giovanna Antonneli). “Estou preparada para contar uma história de amor, esse é meu desafio como atriz nessa novela. Se o autor escrever o beijo, será feito”, afirmou Giovanna, em entrevista ao portal Uol. O desenvolvimento do romance será um bom termômetro para avaliar a aceitação do público, que repercutiu positivamente o primeiro beijo nas redes sociais.
     Fora da ficção, no entanto, casais homossexuais enfrentam preconceito ao demonstrarem afeto em público. O analista judiciário Christian Maltez, 39, e o estudante Mauro Júnior, 20, namorados há pouco mais de um ano, conversaram sobre o assunto com O LIBERAL nos arredores da Praça da República, em Belém, e a reação das pessoas ao presenciarem demonstrações de carinho entre eles variou entre olhares desconfiados, espanto e risadas. Alguns vendedores de estabelecimentos próximos pararam para observar a entrevista, mas ninguém aceitou dar opinião sobre a liberdade para troca de afetos em público entre casais homoafetivos. 
     Christian e Mauro contam que nunca foram ofendidos ou agredidos. Para Christian, romper com a discriminação significa mais do que o direito de trocar carícias na rua sem ser desrespeitado. “A luta do movimento LGBT não se limita a definir onde um casal gay tem liberdade de se expressar ou não, o maior problema é que a sociedade discrimina quando não garante direitos ao cidadão homossexual”, afirma. Ele reconhece que os padrões de comportamento devem ser respeitados em público, o que é válido também para casais heterossexuais. “O objetivo não é afrontar e escandalizar, mas exercer a tolerância”, completa. 
    Christian argumenta que, mesmo com as recentes leis aprovadas a respeito do casamento e adoção, a rejeição do PLC 122, que criminaliza a homofobia, deixa muitas pessoas desamparadas. “O respeito que eu espero das pessoas é o mesmo que eu pratico e essa postura faz diferença no processo de aceitação da sociedade”, observa. A diferença de idade entre eles não é um problema no relacionamento e até realça os diferentes modos de pensar. “Estas expressões deveriam  ser vistas como algo natural, não foi algo que surgiu agora”, defende Mauro, mais novo, e participante recente do debate que somente há alguns anos ganhou maiores proporções. Já Christian pondera que a reação da sociedade é resultado de preconceitos enraizados, mas isso não justifica a intolerância.
     Para a sexóloga Elizabeth Cristina Mendes, a sexualidade é um tabu e a restrição na discussão é imposta a todos, englobando heteros, gays e idosos, por exemplo. “Todos têm desejo, mas a convenção social determina que você não expresse publicamente, reservando-o para espaços privados. Um casal gay confronta isso duplamente, pois a sociedade ainda se agarra a normas que ficaram no passado, como a ideia do sexo exclusivo para reprodução”, diz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se já leu, não custa comentar (: