BRENDA PANTOJA
Da Redação
Balões, bolhas de sabão, brinquedos e o principal: sorrisos, muitos sorrisos. Essas são as principais ferramentas do Grupo Sorria, da Unimed Belém, para amenizar o ambiente de tensão em hospitais e trazer mais alegria aos pacientes e acompanhantes. A iniciativa, que completa uma década neste ano e já alcançou milhares de pessoas, quer expandir o trabalho. Em Belém, outros grupos também atuam na mesma linha e alguns são totalmente independentes, contando apenas com a disposição de voluntários que querem melhorar a situação daqueles que estão enfrentando uma doença. Afinal, a sabedoria popular garante que rir é o melhor remédio.
Pelos corredores de um hospital no bairro de Batista Campos, o ambiente ia mudando nitidamente por onde passavam o Dr. Tonton, a Dra. Moranguinho, o Dr. Bugiganga e a Dra. Morenuxa, alguns dos personagens que fazem parte do grupo, composto por 35 membros, entre voluntários e colaboradores da Unimed. Na enfermaria onde estava internado Lucas Vítor, 10, as brincadeiras dos palhaços vieram em boa hora. “Ver ele interagindo, se distraindo é muito bom. Faz bem para a família também porque as crianças sentem no ar a tensão. Seria tão bom se essas visitas fossem diárias e adotadas também na rede pública”, comentou a mãe do garoto, Eliângela Gonçalves, visivelmente emocionada.
Para ela, as dinâmicas foram uma válvula de escape para a pressão. “Ele está doente desde o dia 23 e estamos indo e vindo do hospital. Hoje decidiram internar e vamos fazer mais exames para definir o melhor tratamento. Uma ação como essa acrescenta muito para a nossa autoestima”, acrescentou. A analista de sistemas Raquel Cohen, 25, também estava angustiada, mas acabou se divertindo junto com o filho Miguel, de apenas 2 aninhos, durante a atividade. Por causa de uma picada de inseto que infeccionou perto do globo ocular, o menino ficou em observação por 48 horas. “Eu e ele estávamos aflitos, mas a visita do grupo melhorou totalmente o nosso dia. Só de ver o nosso filho brincar e rir, a gente relaxa um pouco”, disse.
A partir da técnica de art clown, o projeto leva otimismo, atenção e mais qualidade no acolhimento aos pacientes, reforçou o vice-presidente da empresa e coordenador das ações de Responsabilidade Social, o médico Antônio Travessa. “Essa técnica é difundida em todo o mundo. Existem estudos que comprovam, e nós podemos ver isso continuamente nos nossos clientes, o impacto na recuperação quando se busca melhorar o espírito, a confiança”, destacou.
Por trás das maquiagens e roupas coloridas estão pessoas como Nelson Delgado, 36, profissional de Tecnologia da Informação. Há quatro anos, ele é o Dr. Tonton e para realizar o trabalho voluntário foi treinado pelo ator Ricardo Tomaz, instrutor do Grupo Sorria desde a sua criação. Ricardo explicou que há muita preparação para aplicar a terapia do riso. “Todos que entram passam por oficinas para aprender a técnica do palhaço de hospital, oficinas de balão, musicalização, maquiagem e construção de personagem”, contou.
A intenção não é mudar o paciente, mas sim modificar o ambiente do hospital. “Quando eles chegam, vão quebrando aquele paradigma do silêncio, da rotina, da hora marcada. Antes, tem um diálogo com a equipe sobre a situação dos pacientes e eles ficam livres para brincar, levar um pouco de esperança”, acrescentou a assistente social Vanessa Camarão. O grupo se reveza para fazer, em média, oito visitas por semana e vai a pelo menos 12 instituições parceiras, incluindo hospitais da rede pública e outras unidades da rede privada. Eles também costumam participar de ações pontuais em comunidades ribeirinhas, creches e escolas.
Para este ano, a meta é resgatar antigos voluntários que passaram pelo Sorria, para dar mais fôlego ao projeto. “Como voluntário, eu aprendo muito e o diferencial desse trabalho é que acontece o ano inteiro, não só em datas especiais. Ver a resposta do público nos marca muito porque muitos agradecem e se emocionam”, completou Nelson. O grupo faz parte do Programa Viver Bem, da Unimed, que inclui outras ações de responsabilidade social. Helena Balbinot é psicóloga do Viver Bem e sustenta a eficiência das visitas.
“Além do paciente e seus familiares, a ação também mexe com a equipe multiprofissional, que passa por muita tensão. O ambiente geralmente é de ansiedade e tristeza e pesquisas mostram que o estado emocional pode interferir no agravamento de uma patologia. Por isso é tão importante levar entretenimento e alegria a este público”, frisou.
Trabalho do Grupo de Ouro Nacional vai além do ambiente hospitalar
Com atuação, principalmente, no bairro da Terra Firme, o Grupo de Ouro Nacional (GON) vai a hospitais e associações que recebem crianças que enfrentam o câncer, levando grupos de contadores de histórias e personagens para promover atividades lúdicas no Hospital Ophir Loyola e outras instituições. Criado há três anos, eles também tem outra vertente, que é o contato domiciliar com os pacientes oncológicos. Semanalmente, os voluntários vão às casas das pessoas cadastradas para fazer o acompanhamento, que pode incluir ajuda com remédios, cesta básica, encaminhamentos médicos, ou simplesmente fortalecer os vínculos afetivos.
O autônomo Cláudio Alves, 46, não tem dúvida de que o apoio do GON foi determinante para que o filho, Kennedy, conseguisse fazer um transplante bem sucedido de medula óssea. Diagnosticado com leucemia no dia 13 de fevereiro, a família logo descobriu que o filho mais velho era compatível, mas este foi só o começo da batalha. A operação não era realizada no Pará e ele teve que ser transferido para Recife. “Só a burocracia com documentação demorou um mês. Fora os custos. Calculo que gastamos mais de R$ 30 mil. Foi aí que entrou o GON. Nós realizamos uma caminhada em prol do meu filho e conseguimos levantar o valor necessário”, recordou.
Outra ajuda do GON foi com campanhas de doação de sangue. “Por duas vezes, durante o tratamento, meu filho ficou sem sangue para receber. Se não fosse a gente correr atrás, divulgar e pedir, sabe lá quanto tempo teríamos que esperar”, ressaltou. Kennedy foi operado em novembro e a notícia tão esperada foi confirmada: não houve rejeição da medula. Ele está no pós-operatório em uma casa de acolhimento em Recife e a previsão é que volte para Belém no fim do próximo mês. Cláudio se tornou um dos 30 voluntários e acredita que o suporte emocional precisa ser olhado com mais atenção pelos hospitais da rede pública.
A dona de casa Odineide Nery, 40, é uma das cadastradas que contou com a assistência emocional do grupo e acredita na relevância de trabalhos com esse propósito. O diagnóstico do câncer de mama e a cirurgia para retirar o tumor ocorreram há mais ou menos um ano, depois vieram algumas sessões de radioterapia e quimioterapia. “Durante todo esse processo, o GON me acolheu. Graças a Deus, não precisei de apoio financeiro mas o incentivo e a força que eles me deram, assim como a família, fez muita diferença na forma de encarar o tratamento”, assegurou. Ela já deixou as sessões e está somente em fase de acompanhamento.
A universitária Keila Paiva, 18, é voluntária do GON desde o começo e é responsável pelas campanhas de mobilização. Segundo ela, o ponto forte da entidade é a articulação. Quando visitam lugares como a Casa Ronald McDonald Belém, que abriga crianças e adolescentes do interior do Pará em tratamento contra o câncer, o grupo procura parcerias com coletivos culturais, grupos de dança, teatro e música do bairro. “Esses momentos, em que arrancamos sorrisos deles, são maravilhosos. Tem, ainda, o trabalho de conscientização nas escolas. Levamos toda uma programação para falar sobre prevenção e diagnóstico precoce”, detalhou. Em 2016, o GON quer aumentar o número de famílias cadastradas, que já são em torno de 50, e montar uma agenda fixa mensal de visitas a instituições.
“Os EnferMágicos” levam humor e esclarecimentos aos pacientes
“Os EnferMágicos” também apostam na descontração e no humor para ter um impacto positivo nos usuários do sistema público de saúde, mas eles também fazem questão de levar informação. Através dos “educa-shows”, a equipe de seis voluntários consegue captar a atenção do público e promover a educação. Idealizado em 2014 pelo estudante do 5º semestre de Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA), Marcos Trindade, o lema principal deles é: “A magia de cuidar é cuidar com amor”.
Todos caracterizados com figurinos de enfermeiros mágicos, vestidos de jaleco-smokin, as apresentações são regadas a muita música, brincadeiras e brindes numa perspectiva de conscientizar e promover a prevenção. Recentemente, eles estiveram no Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza para alertar sobre o zika vírus, além de ações especiais com a terceira idade em abrigos e projetos. “Quando levamos esses dados importantes em uma linguagem mais acessível e de forma divertida, estamos contribuindo para incentivar hábitos saudáveis, além de humanizar o espaço hospitalar. É interessante tanto para os pacientes, que se sentem mais próximos e imediatamente ao final vem tirar dúvidas, quanto para a formação de profissionais mais sensíveis”, defende.
Por enquanto, o grupo é formado exclusivamente por estudantes de Enfermagem, mas Marcos está empolgado com a ideia de ampliar a atuação. A iniciativa é totalmente independente e sem ligação trabalhista com a UFPA, portanto não oferece bolsa ou carga horária. Com a greve de quase quatro meses dos professores e técnicos no ano passado, o grupo conseguiu realizar poucas apresentações. “Antes de montar cada educashow, a gente se prepara com muita pesquisa. Recebemos contato de alunos de várias áreas, desde Biblioteconomia até Educação Física, e queremos incluir mais gente no projeto. Estamos montando nosso cronograma de ações para este ano, além de estarmos em busca de apoios e doações, pois os recursos são poucos”, complementou Marcos, que também é músico e compositor.
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