*Publicado na página Responsabilidade Social, no jornal O LIBERAL de 24/09/2015
BRENDA PANTOJA
Da Redação
Um dos vereadores tem 7
anos de idade, o secretário
de meio ambiente completou
12 anos e o prefeito, com
16 anos, ainda nem saiu da
adolescência. Apesar da pouca
idade, os gestores da cidade-laboratório
de Irupé têm feito
um ótimo trabalho no pequeno
município. Bem pequeno
mesmo, uma vez que possui
apenas 230 “habitantes”. O
projeto existe há três anos e
desenvolve um trabalho de
consciência social e política
com os jovens, transformando-os
em agentes ativos da
comunidade. A iniciativa é
promovida pela organização
não governamental (ONG) Lar
Fabiano de Cristo (LFC), na unidade
Casa de José, no bairro
do Guamá.
A entidade completou 44
anos de fundação neste mês
e, atualmente, beneficia cerca
de 300 crianças, jovens, adultos
e idosos. Irupé, que é uma
palavra indígena para a planta
vitória-régia, abriga três comunidades:
Tuchaua, Muiraquitã
e Apoema. É dentro da sede do
LFC que os integrantes desses
grupos convivem e aprendem
sobre cidadania. A ONG oferece
uma série de atividades extraclasse
que vão desde aulas
de reforço em matemática e
português até karatê e teatro,
além de cursos profissionalizantes.
A mini-cidade pode parecer
pacata, mas já vivenciou um
processo de impeachment realizado
no meio do ano letivo e
promove assembleias mensais
para discutir os problemas e
as necessidades da população.
Cada comunidade elege um
vereador e um secretário e
todos votam para escolher os
prefeitos e vice-prefeitos. Eles
podem nomear assessores, se
julgarem necessário, e também
indicam os secretários de
Educação, Comunicação, Meio
Ambiente e Saúde. São nomeadas
duas equipes de gestores,
sendo uma para a manhã e outra
para a tarde.
No turno vespertino, a responsabilidade
de zelar por
Irupé é do prefeito Luís Henrique
Alves, de 16 anos. Ele já frequentava a ONG há dois
anos, mas conta que aprendeu
bastante depois que foi eleito.
“É um projeto de protagonismo
e deveria ser colocado em
prática em outras instituições
porque as crianças passam a
conhecer melhor seus direitos
e deveres. Aqui tem crianças
com uma consciência que muitos
adultos não tem e os pais
se espantam ao ver o conhecimento
delas. Tudo isso ajuda
a criar cidadãos de bem, que
vão saber brigar pelos seus direitos”,
afirma.
Os mecanismos da gestão
municipal ficam mais claros
para os meninos e meninas,
que chegaram a conversar
com vereadores para entender
melhor o funcionamento da
administração. “Não tem sido
uma experiência fácil, mas é
muito interessante lidar com
as responsabilidades do cargo
e ainda tenho muito para
aprender”, acrescenta o vice-prefeito
Wesley Santos, 14. Em
parceria com Luís Henrique e
o resto da equipe, eles pensam
em formas de conscientizar
os estudantes e solucionar as
reclamações trazidas pelas
comunidades.
“A prefeitura me ensinou a
ter mais consciência pelo ambiente
que ocupo. Antes, eu
pichava as paredes da escola,
mas agora eu entendo que isso
não é uma boa atitude. Inclusive,
tivemos conversas com os
alunos sobre pichação e vários
admitiram que faziam sem
pensar nas consequências”, compartilha Luís. Todo mês, as
comunidades recebem temas
diferentes, como sexualidade
e drogas, para debater. O trabalho
é realizado no mesmo
formato no turno da manhã,
mas os participantes têm autonomia
para definir atividades
diferentes. Elaine Rodrigues,
15, é a prefeita nesse período e
conta com o apoio da assessora
Rayssa Neves, também com
15 anos.
Há três anos no Lar Fabiano
de Cristo, Rayssa também passou
pelos cargos de vereadora
e secretária, chegando até a
entrar na disputa pela prefeitura.
“Estou desde o começo
da cidade e tem sido uma experiência
maravilhosa mesmo,
aprendi muitas coisas sobre o
que acontece em uma cidade.
A importância da reciclagem
para os moradores foi uma
delas”, conta. Para ela, o que
mais impressiona as pessoas
de dentro e de fora da ONG
é a união entre as crianças e
jovens. Cada comunidade fica
encarregada de cuidar de
alguns ambientes do prédio e
ela diz que, muitas vezes, eles
se mobilizam para consertar
problemas estruturais simples
ou arrecadar materiais que estão em falta.
Como se assessorar a
prefeita não fosse trabalho
suficiente, ela também está
envolvida na turma de karatê,
teatro e dança. Para o ano
que vem, quer fazer o curso
de informática avançada, que
é ministrado dentro do LFC,
em uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (Senac). “Só tenho
que agradecer ao Lar, foi por
meio desse trabalho que descobri
o karatê, que hoje é a minha
inspiração. Quero passar
para os meus filhos tudo o que
aprendo aqui”, completa. Luís
Henrique está aproveitando as
oportunidades oferecidas pela
ONG para se capacitar e já realizou
os cursos de mecânico
de motor diesel, de operação e
de manutenção de computadores.
“O Lar Fabiano de Cristo
está nos preparando para a
vida e não só na questão de
trabalho, mas em experiência
pessoal mesmo”, destaca. Para
Norma Carvalho, supervisora
da unidade, é muito gratificante
observar os frutos da
atuação da ONG e da implantação
da cidade de Irupé. “É
interessante observar a forma
como eles se organizam. Aqui
dentro eles têm autonomia
para opinar nas atividades
pedagógicas, além de se mobilizarem
para levar ações para
fora dos muros da escola”,
explica. Os estudantes levam
discussões para outras escolas
e até já realizaram manifestações
no bairro, munidos
de caixas de som e panfletos
para conscientizar sobre o
despejo inadequado de lixo
e para pedir a instalação de
semáforo na rua.
IMPEACHMENT
Outra ocasião interessante
ressaltada por Norma foi o impeachment.
Ela lembra que os
alunos do turno da tarde fizeram
um abaixo-assinado para
reclamar do comportamento
do então prefeito de Irupé,
que não acatava as decisões
acertadas nas assembleias.
“Depois disso, novas eleições
foram realizadas e o aprendizado
sobre democracia tem
se fortalecido, especialmente
entre os membros da gestão de Irupé, que aprendem a trabalhar
em equipe”, pontua. A
escala de cuidados com a horta
e com a alimentação das
tartarugas criadas na ONG
são montadas pelos secretários, por exemplo.
A cidade-laboratório também
conta com um jornal e
um conselho de mediação de
conflitos, ideia dos próprios
“moradores”. “Alguns deles tiveram
a chance de participar
de um curso de mediação e
depois disso, tiveram a ideia
de criar o conselho. Fizeram a
proposta em assembleia e foi
aprovada pelos alunos. O conselho
já resolveu atritos entre
grupos, com sucesso”, ressalta.
Com tudo isso, a supervisora
nota que os garotos e garotas
de Irupé estão progredindo
em termos de maturidade e
senso crítico.
Norma calcula que, desde
que o LFC começou a promover
cursos profissionalizantes
através de parceiros, em torno
de 500 pessoas se capacitaram
com a ajuda da Casa de José.
Maria das Graças Pantoja, 43 é
uma delas. Mãe de seis filhos
homens, ela diz que todos
eles já passaram pela ONG.
Ela mesma fez os cursos de
bombons regionais, salgados,
artesanato e costura. “Além de
me ajudar a ter uma ocupação
que pudesse gerar renda, o Lar
tem contribuído para os meus
filhos. O segundo, hoje com
21 anos, terminou os estudos
cedo, não atrasou na escola e
já está no mercado de trabalho
porque contou com o reforço
daqui. Todo bairro deveria ter
um trabalho desse, que ocupa
o tempo dos filhos”, declara.
O projeto da cidade de Irupé
é um dos semifinalistas da
11ª edição do Prêmio Itaú Unicef.
O resultado será divulgado
no dia 16 de outubro. A ONG é
mantida pela Capemisa Seguradora,
empresa que foi criada
justamente para assegurar o
apoio a este trabalho social.
Além disso, ela tem pelo menos
15 instituições parceiras.
A Casa de José possui muitos
ambientes: biblioteca comunitária,
sala de costura industrial,
espaço de artesanato,
refeitório, estamparia, entre
outros. Porém, um espaço está
sendo ansiosamente aguardado
pelas crianças e adolescentes:
o campo de areia, que será
construído no próximo dia 9
de outubro pelos colaboradores
da Telefônica Vivo, durante
a realização do Dia dos
Voluntários promovido pela
empresa.
Lar Fabiano de Cristo vai receber reformas no Dia dos Voluntários
O Dia dos Voluntários, realizado
através da Fundação
Telefônica Vivo, ocorre há 10
anos em todo o Brasil e está
na quinta edição na capital paraense.
Um grupo de 120 funcionários
irá ao Lar Fabiano de
Cristo para reformar a quadra
de vôlei e futebol, fazer a limpeza
do espaço e revitalizar a
pintura e grafitagem dos muros.
Os municípios de Marabá,
Redenção e Santarém também
realizam a ação, envolvendo
200 colaboradores em todo o
Pará. Neste ano, serão atendidas
47 instituições em 40 cidades
brasileiras, beneficiando
cerca 25 mil pessoas.
O diretor da Telefônica Vivo
para a Regional Norte, Ricardo
Vieira, fala sobre a relevância
da iniciativa para as entidades
e também para os trabalhadores.
“O trabalho não acaba ao
fim do dia. É muito comum
que o colaborador crie vínculos
com as instituições atendidas”.
Ele considera um dia de
grande aprendizado e “olhando
de um ponto de vista prático,
nós conseguimos identificar
lideranças, ver quem sabe
trabalhar em equipe”.
Segundo ele e a embaixadora
do Comitê de Voluntários
da Telefônica Vivo, Alessandra
Ewerton, a ação gera trocas
muito interessantes entre empresas
e pessoas. Todo ano,
uma ONG diferente é ajudada
e o engajamento crescente tem
sido uma resposta positiva. O
número de participantes em
Belém dobrou desde a primeira
edição, tornando o comitê
local uma referência de mobilização.
“No dia, muitos setores
param totalmente, mas temos
atendimentos e lojas que
não podem fechar. Para esses
casos, criamos um “game do
bem”, que é uma forma de ajudar
virtualmente. Tem uma
série de ações digitais que eles
podem fazer para divulgar
e colaborar com a causa. Por
enquanto, isso é interno, mas
temos planos de abrir essa
plataforma para a sociedade
futuramente”, adianta Alessandra.
A analista de rede Cleide
Pereira, 44, e o analista de telecomunicações
Gilson Mácola,
35, vão participar do Dia do
Voluntário e compartilham a
satisfação que sentem em poder
colaborar. “Participo desde
a primeira edição e o projeto
tem mantido a essência, que
é ajudar o próximo. Fazer isso
dentro do horário de trabalho
faz você repensar sua atitude”,
comenta Cleide. Para o colega
dela, esse fator derruba a desculpa
da falta de tempo para
se dedicar ao voluntariado. “Ao
fazer isso, a empresa derruba
as suas barreiras e alimenta
essa vontade de se doar”, complementa.
De acordo com a experiência
deles no Dia do Voluntário,
um efeito bom é a ligação estabelecida
com as entidades.
Gilson percebeu que os funcionários
que moram perto
das ONGs atendidas continuam
interagindo com elas.
“Teve um ano, que foi muito
tocante para mim, que trabalhamos
em um asilo. Minha
família conheceu o lugar e até
hoje meu pai contribui para o
trabalho deles”, conta Cleide.
A Fundação Telefônica Vivo
também se comprometeu a
recolher os uniformes dos trabalhadores,
que são trocados
anualmente, em todo o Estado
e entregar ao Lar Fabiano
de Cristo. Serão centenas de
calças e camisas que serão
aproveitadas pelas integrantes
das oficinas de costura e
customização, para depois
serem vendidas.
Em Santarém, será beneficiado
o projeto “Saúde & Alegria”;
em Marabá, a ONG Comunidade
Kolping de Marabá
Pedro Arrupe; e em Redenção,
a Associação Mulheres de Raça
(Amar). Em Belém, o Lar Fabiano
de Cristo fica na rua Barão
de Igarapé Miri, 527. Os telefones
para contato são 3249-
7795 e 9 9212-8998.
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