*Publicado no jornal O LIBERAL de 28/03/2014.
Para chegar à Feira do Açaí na madrugada de quinta, o barqueiro Edilson Ferreira, 43, saiu na noite de segunda-feira do município de Afuá, na Ilha do Marajó. As quase mil latas de açaí que ele transportava tinham o Ver-o-Peso como destino certo, em uma rotina que já dura 20 anos. Ele faz o roteiro uma vez por semana e só poucas horas depois do sol nascer, quando já terminou de negociar a venda, é que se recolhe dentro do barco para descansar. Nas primeiras horas do dia, o burburinho e a agitação também tomam conta da Pedra do Peixe, onde chegam os pescados que vão abastecer as feiras livres e supermercados de Belém.
“Os anos vão passando e a feira só ganha mais força, com mais barqueiros fazendo o transporte do açaí, mais fábricas procurando comprar. Comecei fretando o barco, mas acabei decidindo entrar no negócio e agora são seis tripulantes comigo”, conta. O aniversário de 387 anos do Ver-o-Peso foi comemorado em 27 de março, mas muitos trabalhadores reclamaram do movimento mais fraco do que o esperado para aquele dia. Quando o resto da cidade ainda dorme, às 2h da manhã, é que a circulação começa a aumentar no Ver-o-Peso. O fluxo de carregadores, com paneiros de açaí ou caixotes de peixe acima da cabeça, vai se intensificando gradualmente até atingir o pico por volta das 5h, quando quase não há espaço para transitar em meio às mercadorias.
O lema da feirante Maria Ferreira, 64, é “quem chega primeiro, negocia melhor”. Ela trabalha na feira do bairro de Canudos há duas décadas e diariamente vai ao Ver-o-Peso para escolher somente as “frutas de primeira”. “Chego às duas ou três da manhã e rapidamente vou escolhendo tudo que preciso, desde a farinha de tapioca até muruci, cupuaçu e tudo que é fruta, todas fresquinhas”, garante ela, que carrega as compras em uma Kombi e segue direto para o ponto de trabalho. Já o vendedor Dilson das Chagas não tem pressa de ir embora. Aos 62 anos, passou os últimos 40 trabalhando na Feira do Açaí, onde diz que chegou “por acaso”. Ele explica a história, mas não para de negociar durante a entrevista, atento para não perder nenhum bom negócio e apelando para a amizade desenvolvida com os compradores (“Você é parceiro e já tá amanhecendo, pra ti eu posso fazer mais barato esse paneiro, pra acabar logo”).
Depois de ser cobrador de ônibus durante 12 anos, um amigo ofereceu trabalho como carregador. “Como ele trabalhava com exportação, de vez em quando me deixava vender alguns paneiros. Comecei com 10 e hoje vendo uma média de 130 por dia”, lembra. Dilson passa mais tempo na feira do que em casa, chegando ao local normalmente às 16h. “Fico aqui, brincando, conversando, tiro uns cochilos e só volto para casa às oito horas do dia seguinte”, confessa. Para os próximos anos do espaço que considera a extensão de casa, ele tem um desejo. “Espero que nos deixem permanecer aqui, trabalhando, ganhando nossa vida. Fazemos parte daqui, o Ver-o-Peso é o ponto de encontro dos paraenses, um patrimônio histórico e cultural”, destaca.
O lema da feirante Maria Ferreira, 64, é “quem chega primeiro, negocia melhor”. Ela trabalha na feira do bairro de Canudos há duas décadas e diariamente vai ao Ver-o-Peso para escolher somente as “frutas de primeira”. “Chego às duas ou três da manhã e rapidamente vou escolhendo tudo que preciso, desde a farinha de tapioca até muruci, cupuaçu e tudo que é fruta, todas fresquinhas”, garante ela, que carrega as compras em uma Kombi e segue direto para o ponto de trabalho. Já o vendedor Dilson das Chagas não tem pressa de ir embora. Aos 62 anos, passou os últimos 40 trabalhando na Feira do Açaí, onde diz que chegou “por acaso”. Ele explica a história, mas não para de negociar durante a entrevista, atento para não perder nenhum bom negócio e apelando para a amizade desenvolvida com os compradores (“Você é parceiro e já tá amanhecendo, pra ti eu posso fazer mais barato esse paneiro, pra acabar logo”).
Depois de ser cobrador de ônibus durante 12 anos, um amigo ofereceu trabalho como carregador. “Como ele trabalhava com exportação, de vez em quando me deixava vender alguns paneiros. Comecei com 10 e hoje vendo uma média de 130 por dia”, lembra. Dilson passa mais tempo na feira do que em casa, chegando ao local normalmente às 16h. “Fico aqui, brincando, conversando, tiro uns cochilos e só volto para casa às oito horas do dia seguinte”, confessa. Para os próximos anos do espaço que considera a extensão de casa, ele tem um desejo. “Espero que nos deixem permanecer aqui, trabalhando, ganhando nossa vida. Fazemos parte daqui, o Ver-o-Peso é o ponto de encontro dos paraenses, um patrimônio histórico e cultural”, destaca.
Circulando por entre os balanceiros, Raimunda Silva, 49, escolhe os melhores peixes para levar para a Feira do Entroncamento, onde trabalha há 15 anos. Dourada, tilápia e pratiqueira são as preferências dela, que acorda às 3h para sair de Marituba em direção ao Ver-o-Peso. Passando das 4h30, ela ainda não tinha concluído as compras, mas não tinha pressa e analisava bem a relação de custo e benefício. “Levo sempre entre 170 e 200 kg, mas os preços estão subindo muito. Tive que deixar de comprar pescada amarela e filhote por enquanto”, lamenta. Um dos que negociavam com ela era Ribamar Oliveira, 41, vice-presidente da Associação dos Balanceiros do Ver-o-Peso (Asbalan). Ele estima que circulem 25 toneladas de pescado diariamente na Pedra do Peixe.
O balanceiro acorda meia-noite para trabalhar de 1h às 8h. “A rotina daqui mudou, antes a venda iniciava às 4h30, mas os compradores foram chegando cada vez mais cedo para negociar”, observa. Os trabalhadores da feira são o principal público de Maria do Socorro Negrão, 49, que vende mingau há mais de 20 anos, ocupação que aprendeu com o pai. Ela dedica quase 14 horas por dia ao trabalho, uma vez que meia-noite começa a preparar o alimento em casa, no bairro do Benguí, e segue para o mercado e só encerra a venda por volta das 14h.
“Abro a barraca às 3h30 e tem movimento a manhã toda. Aqui me sinto em casa, até me sinto segura. A gente faz amizades e conhece muitas pessoas novas. Também é daqui que pago meu aluguel e sustento meus dois filhos, então me esforço para fazer bem o meu trabalho. Enquanto puder vender o meu mingau, está ótimo”, ressalta, entre risos. Um dos clientes fiéis é o autônomo Haroldo Rodrigues, 60, que não começa o trabalho antes de tomar mingau no box dela. “Frequento o Ver-o-Peso constantemente há 12 anos. Desço do ônibus às seis horas e primeiramente paro aqui para tomar o meu café da manhã, depois sigo para comprar as mercadorias necessárias”, afirma.
O dia já está claro, são 6h30, e a feirante Rita de Cássia Pereira, 39, trabalha agilmente para organizar as frutas na barraca, em ritmo acelerado. A rotina dela é puxada, principalmente nos três dias da semana em que acorda às 2h da manhã, deixa a casa em ordem, no distrito de Icoaraci, e segue para a Central de Abastecimento do Pará (Ceasa). “No mais tardar, às 4h30, venho de lá para o Ver-o-Peso, com 30 caixas de banana e 10 de goiaba, além de muruci, maracujá e outras frutas”, relata. Os primeiros clientes chegam às 5h e, segundo ela, geralmente são aqueles que trabalham em lanchonetes e vendem sucos e vitaminas, levando frutas em grande quantidade. Somente às 18h30, Rita volta para casa, com os filhos e netos. “Desde os nove anos trabalho em feiras, já vendi nas feiras do Barreiro e do Telégrafo, mas o Ver-o-Peso não tem nem comparação. Se deixar a gente fica direto, o movimento não para nunca. Não troco este lugar por nenhuma outra feira”, admite, com um sorriso animado, pronta para começar mais um dia de trabalho em uma das maiores feiras livres da América Latina.